Quando o chão vira texto
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Maior projeto de arte urbana do mundo transforma o centro de São Paulo num aquário em meio a prédios históricos
O maior projeto de arte urbana do mundo está sendo realizado no centro de São Paulo, em meio a ícones da arquitetura modernista como o edifício Copan, o Edifício Itália e o prédio do antigo hotel Hilton, e aos novos expoentes da cena gastronômica de São Paulo – do megapremiado Casa do Porco e ao tradicional Bar da Dona Onça aos descolados Sertó, Z Deli, Romeo Romeo e Bento 43.
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O projeto, batizado de Aquário Urbano, está sendo realizado pelo artista plástico Felipe Yung Maciel, o Flip e pelo produtor cultural Kléber Pagu. São 15 prédios no total, que vão somar mais de 10 mil metros quadrados pintados, qualificando o projeto a figurar no livro Guinnes dos recordes. Oito deles já foram pintados. E os demais devem ficar prontos até fevereiro.
Leia aqui como começou o projeto.
De um modo geral, a reação dos proprietários dos prédios que já receberam a intervenção artística é positiva. Alguns deles não recebiam tinta há anos, e a falta de manutenção de paredes que recebem sol e chuva pode causar infiltrações que podem chegar ao interior do edifício.
Houve um edifício, no entanto, que não apenas se recusou a autorizar a intervenção. A Dias Fernandes – Administração e Participações Ltda., proprietária do edifício Renata Sampaio Ferreira, um prédio construído em 1956 pelo arquiteto Oswaldo Bratke, na Rua Araújo, foi além e entrou na Justiça pedindo pagamento de multa e prisão de Pagu. Uma liminar concedida pela juíza Lúcia Caninéo Campanhã determinou multa de R$ 50 mil por dia se a obra voltar a ser realizada e retorno da parede à cor original, com pagamento de R$ 5 mil por dia que ela permanecer pintada com o grafite.
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O caso traz à tona a discussão sobre o direito de propriedade – garantido pela legislação brasileira e citado pela juíza – dos donos do edifício versus o direito à paisagem imposta ou sonegada ao conjunto de cidadãos que mora ou transita pelo local. O que é melhor? Uma parede deteriorada na cor original ou uma parede colorida por uma obra de arte?
Na visão da Dias Fernandes – que não quis dar entrevista para explicar os motivos da discordância com a obra – é melhor manter a parede na cor original, já que o prédio é tombado – embora ela estivesse pichada no momento em que o artista plástico Flip começou a pintar os seus animais marinhos coloridos.
Pagu não questiona o direito à propriedade, mas diz que a arte e o direito da população à cidade também deve ser assegurado. “Acreditamos que esta forma de ocupação é uma forma de fazer com que as pessoas interajam com a cidade. E também uma forma de discutir a cidade, o espaço público, o que interage com o espaço público, o direito de propriedade no espaço público. É uma forma de a gente falar um pouco mais sobre cidades, sobre as pessoas, como a gente quer interagir com esses prédios”, afirmou ao A Vida no Centro. “É a primeira empena inteira pintada sem autorização”, diz Pagu.
Apesar da polêmica sobre o Renata Sampaio Ferreira – que pode deixar um paredão bege no meio da paisagem colorida – o projeto do Aquário Urbano vai seguir em frente. Pagu ainda vai tentar a intervenção do Conpresp, o órgão municipal que regula o uso de prédios históricos na cidade. E vai continuar com a intervenção nas demais fachadas, algumas com autorização expressa, outras sem. “Essa obra unifica todos os moradores”, diz Pagu. “A única oposição direta foi a deste prédio e acho que mesmo esta oposição é pertinente para o diálogo”, afirma.
Nas próximas semanas, o cruzamento das ruas Bento Freitas e Major Sertório, bem no centro do aquário, será fechado aos domingos e começará a receber rodas de conversa entre moradores, frequentadores, ativistas e especialistas e público interessado em discutir os usos do espaço público.
E quem quiser ter uma ideia do que vem por aí não precisa esperar até fevereiro. Já existe um aplicativo que mostra como será a experiência do Aquário Urbano em realidade virtual.
Apesar da escala grandiosa, o Aquário Urbano está sendo realizado praticamente sem dinheiro. O projeto conta com patrocínios de material e equipamento e o tempo dedicado pelo artista e pelo produtor. A Sherwin-Williams forneceu o equivalente a cerca de R$ 1 milhão em tinta e a Mills e a JLG estão oferecendo cerca de R$ 500 mil com o equipamento de guindaste que permite a elevação do artista na parede.
“No centro de uma cidade financeira, estamos fazendo um projeto praticamente sem dinheiro, só com parcerias”, diz Pagu.
“Estamos mostrando que é possível resistir, ocupar uma cidade, viver numa cidade, fazer essa cidade virar boa pra gente. Não podemos ter medo da cidade.”
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A historiadora e antropóloga Paula Janovitch fala sobre a "gramática dos caminhantes", que pode ser percebida ao se andar a pé pela cidade.
Pastilhas estão sendo retiradas e serão trocadas por outras semelhantes, segundo nota oficial da Prefeitura de São Paulo.
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