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Romance de Adriana Armony mistura realidade e ficção e transita por diversos gêneros narrativos
Por Marcio Aquiles
De início, o quê de ficcional e real – e suas proporções – parece ser a questão incontornável da obra “Pagu no Metrô”, de Adriana Armony. Livros anteriores da autora com figuras históricas (Nelson Rodrigues, Stefan Zweig) deixam tudo ainda mais enigmático. Adriana é romancista. Mas também pesquisadora de literatura. Estaria ela performando como uma ou como outra? A narradora da obra vai a Paris para empreender pesquisas documentais sobre o período em que a ícone tardia do modernismo passou na capital francesa ou para explorar os interstícios narrativos da autoficção? E, o principal, isso realmente importa?
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A autoficção é um subgênero que vem sendo bastante explorado nas últimas cinco décadas. Por meio de diferentes abordagens e níveis, já foi utilizada por autores como Philip Roth, Paul Auster, Alice Munro, Scholastique Mukasonga, Michel Houellebecq, Enrique Vila-Matas, Cristóvão Tezza, Ricardo Lísias, entre tantos. Dispositivos similares, porém, são bem anteriores, como as tensões entre ficção e simulacro em Borges ou os recursos mnemônicos, intertextuais e autobiográficos na prosa de Marguerite Duras, só para ficarmos no século XX.
A pesquisadora Anna Faedrich, em artigo de 2015, versa sobre os matizes gradativos dos gêneros literários, em que, do menos ao mais ficcional, perfilam-se: autobiografia (regida pelo princípio da veracidade), romance autobiográfico e autoficção (em ambos a ambiguidade domina), e, por fim, o romance ‘tradicional’ (reino da inventividade e do pacto ficcional). Se a primeira e a última tipologia listadas assentam-se em terreno estável, as duas do meio ficam na corda bamba. A característica decisiva para a autoficção seria o embaralhamento dos limites entre o real e a ficção, levando os leitores a uma recepção múltipla e potencialmente contraditória sobre a obra.
Fazendo um paralelo com o campo do teatro, cito uma interessante proposição – igualmente gradativa – do diretor Mauricio Paroni de Castro, sobre as intenções interpretativas, registrada em seu livro “Aqui ninguém é inocente”, em que parte-se “do ator (grau zero de representação), evoluindo para a confissão pessoal pública, representação hiper-realista, realista, até o grammelot1 e a máscara pura (o grau dez)”, ou seja, da instância biológica-corporal até a alegoria em máxima intensidade.
Esse tipo de extrapolação epistemológica e ontológica pode nos levar até as hipóteses sobre a própria existência, cuja instância definitiva tem as maiores altitudes que nosso cérebro pode conceber. A cartela é vasta, pode-se tentar interpretar o mundo em termos do solipsismo, dos signos sensoriais (memória, linguagem e consciência), dos dogmas religiosos, das perspectivas macroscópicas ou quânticas do universo… O difícil é escolher, já que todas essas são possibilidades praticamente autoexcludentes. O mesmo vale para a leitura, com a diferença de ser essa escolha prescindível; podemos facilmente, apesar da curiosidade natural, ler e ignorar em qual subgênero determinado material que estamos interpretando se insere.
No caso de “Pagu no Metrô”, o nível de performatividade do texto oscila em registros que atravessam uma possível historicização, a crônica e a autoficção. Num parágrafo, temos a Adriana Armony (?) pesquisando documentos e dossiês nos arquivos nacionais e da polícia; no seguinte, a narradora (?) contando sobre Pierre, fotógrafo e dono de um chalé nos Alpes que conheceu pelo Tinder durante esse período. Quem comanda esse território, a autora, a narradora, a personagem? Tanto faz, pois a matéria-prima é versátil, o texto é maleável ao gosto do leitor, e tem valor qualquer que seja o propósito.
Especialmente nesse centenário da Semana de Arte Moderna, em que a efeméride por si só conduziu a indústria cultural e as políticas públicas a peças, exposições e publicações circundantes ao assunto, esse ótimo experimento narrativo – que nem é tão ousado em termos formais, embora muito bem executado – se destaca em demasia de outras produções que orbitam essa mesma temática.
1 O grammelot, na definição de Dario Fo, é um jogo onomatopeico de palavras composto por gestos, ritmos e sonoridades regionais.
@marcioaquiles
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