Quando o chão vira texto
A historiadora e antropóloga Paula Janovitch fala sobre a "gramática dos caminhantes", que pode ser percebida ao se andar a pé pela cidade.
Medida experimental da Prefeitura vai instalar tablados e bancos no Minhocão aos fins de semana, quando o espaço fica aberto aos pedestres
Por Wans Spiess
Caminhar no centro de São Paulo aos finais de semana pode ser muito bom para além dos pontos turísticos e das compras. Eu, que moro por aqui, sempre gostei de aproveitar as manhãs de domingo no Minhocão. É algo que vai além de um passeio, é um ato simbólico de ocupação de um espaço dominado por carros e do direito à cidade.
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No último ano, por causa da pandemia, passei grande parte do tempo longe dessas caminhadas. Por isso, foi com alegria redobrada que neste domingo voltei a andar por lá. Com todas as precauções que o momento ainda demanda, fiquei muito feliz de ver investimentos para a troca das grades e pintura da infraestrutura teve resultado positivo.
A expectativa era ainda maior para ver as novas escadas de acesso e o mobiliário colocado pela primeira vez neste final de semana. Ficaram faltando os ombrelones, prometidos para as próximas etapas.
Você sabia que a oferta de lugares confortáveis para sentar é uma das principais características que fazem de um espaço aberto um lugar agradável e convidativo? Pense comigo: quando você sai para caminhar, correr, pedalar, ou para fazer qualquer outro tipo de atividade ao ar livre, nada mais gostoso do que poder parar para tomar uma água, dar aquela respirada, e observar a vida desenrolar enquanto você descansa. Além disso, todos gostamos do sol, mas é a sombra que nos faz aproveitar ainda mais os dias de calor. Por isso, esta iniciativa da Prefeitura no Minhocão é muito bem vinda.
Fui bem cedo para lá, antes das 9h, e já tinha bastante gente aproveitando o espaço. Curiosa para saber o que estavam achando, puxei conversa com algumas pessoas – para minha alegria, todas conscientes e com máscara.
Para Renato e Julia, que moram em Santa Cecília: “A nova estrutura é um conforto pra gente que vem caminhando desde a nossa casa. Ter um banco onde conseguimos dar uma descansada, tomar uma água, e até dar uma aguinha para o nosso ‘aufilho’, né? Ajuda bastante, é uma estrutura legal!” Eles dividiam a estrutura com Marcos e Lenir, que também passeavam com o cachorro, e comentaram: “É a primeira vez que a gente vem e estamos adorando. Antes a gente não tinha cachorro e ficávamos com preguiça. Agora que precisamos andar com o nosso “personal-cachorro”, estamos conhecendo a cidade a pé, ficamos sabendo da novidade e viemos conferir. Gostamos muito.”
Já Stefano e Carlota são italianos, mudaram ano passado para o Brasil e escolheram o centro de São Paulo para viver. “É a primeira vez que a gente vem aqui no Minhocão, atraídos pela novidade. Achamos muito bacana a instalação. Outros lugares do mundo tem iniciativas parecidas, e se este for um caminho para chegar lá, vai ser muito legal.”
Eles se referiam a iniciativas como The High Line (2009), o famoso parque linear suspenso em Nova Iorque construído a partir da sessão elevada de uma antiga linha de ferro em desuso na cidade, e a Promenade Plantée (década de 80, hoje conhecido como Coulée verte René-Dumont), em Paris, precursor e inspirador da iniciativa americana.
Outra novidade é que na altura da instalação do mobiliário superior, escadas metálicas conectam com a parte de baixo do elevado, onde foram instalados equipamentos para exercício e diversão. Esta iniciativa faz parte do projeto Centro Novo, política pública de requalificação dos espaços públicos muito bem sucedida na região central da cidade.
As novas estruturas estão na fase de testes. Os móveis serão instalados às sexta-feiras, após as 20h. Ao todo, são 20 praticáveis (similar a um palco), 5 tablados e 3 arquibancadas, todos modulares. A Prefeitura salienta que todas as recomendações por conta da pandemia devem ser observadas, incidindo com ações educativas e distribuição de álcool gel, e que no caso de aglomerações ou outros entraves, pode suspender a iniciativa. Assim, cabe a nós, cidadãos, fazermos a nossa parte.
Acredito que este seja um bom caminho para transformar uma cidade: interferir de forma flexível nos espaços para criar novos imaginários. Sonhar com uma cidade melhor é também produzir e experimentar.
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Leia também: PREFEITURA COLOCA BANCOS NO MINHOCÃO AOS FINS DE SEMANA
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A historiadora e antropóloga Paula Janovitch fala sobre a "gramática dos caminhantes", que pode ser percebida ao se andar a pé pela cidade.
Pastilhas estão sendo retiradas e serão trocadas por outras semelhantes, segundo nota oficial da Prefeitura de São Paulo.
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