Blog da Denize Bacoccina

Denize Bacoccina é jornalista e especialista em Relações Internacionais. Foi repórter e editora de Economia e correspondente em Londres e Washington. Cofundadora do projeto A Vida no Centro, mora no Centro de São Paulo. Aqui é o espaço para discutir a cidade e como vivemos nela.

Cultura online pegou, mas as pessoas ainda querem o presencial

Pesquisa do Itaú Cultural e do Datafolha mapeia o consumo de cultura online na pandemia

A pandemia deu um novo impulso às atividades online, criou novas formas de arte, como o teatro digital, permitiu ver obras de arte em museus do outro lado do planeta, assistir a shows intimistas de dentro da casa dos artistas e até aprender coisas novas nos mais variados cursos online. Esses hábitos adquiridos em 2020 devem continuar a fazer parte da rotina dos brasileiros mesmo quando todas as atividades forem retomadas. Mas as pessoas estão ávidas pela volta das interações sociais.

A pesquisa Hábitos Culturais II, realizada em conjunto pelo Itaú Cultural e pelo Datafolha e divulgada nesta quinta-feira, 22 de julho, mostra que, embora tenham a intenção de continuar com o consumo de cultura online, a maior parte das pessoas sente muita falta do contato presencial e vai preferir um evento físico se tiver esta opção.

Diante da oferta simultânea de shows de música ao vivo e online, 62% escolheriam o presencial. Para apresentações de circo, teatro ou dança e de apresentações infantis a preferência pelo presencial é de 64%. É grande também a adesão ao presencial para aulas e oficinas de (65%), além de exposições e museus (63%). O contato pessoal foi citado por 37% dos entrevistados para preferir as atividades presenciais, enquanto 13% citaram que consideram mais emocionante e 10% querem justamente sair da frente do computador.

Mas isso não significa abandonar as atividades online. 25% dos que preferem o online citam comodidade, flexibilidade e horário e 13% falam sobre a segurança, incluindo a preservação da saúde.

Algumas atividades tiveram crescimento bastante acentuado neste ano, em comparação com a pesquisa anterior, realizada em setembro de 2020. O consumo de apresentações de teatro, dança e música dobrou, de 20% para 40% dos entrevistados. Os podcasts também tiveram alta forte, confirmando a tendência crescente de consumo de áudio. Em setembro do ano passado, 24% disseram estar ouvindo podcasts. Agora, este número passou para 39% dos entrevistados.

Aumentou também o número de pessoas que se conectam todos os dias. De 71% em 2020 para 76% agora.

O consumo de música e de filmes e séries, atividades mais realizadas nessa vida pandêmica online continuou a crescer. O consumo de música online aumentou de 74% para 79% e o de filmes e séries de 68% para 75% entre 2020 e 2021. Vem crescendo também a leitura de livros digitais (de 36% para 40%) e os cursos livres (de 35% para 41%).

Mudança de longo prazo

Um dos pontos mais interessantes da pesquisa e que mostra como de fato a pandemia mudou a nossa vida para sempre, tornando-a híbrida (ou phygital, mistura de mundo físico com digital), é demonstrado este dado: 80% dos que assistiram a apresentações de teatro, música e dança online pretendem seguir com a prática mesmo após a reabertura dos teatros. Entre os espectadores de apresentações infantis, o índice é de 81%.

Mas não para tudo

Por outro lado, os webinars, que estouraram logo no início da pandemia, perderam espaço no dia a dia dos brasileiros. Em 2020, 30% dos entrevistados assistiam a webinars. Agora, são 23%. Visitas online a exposições e museus também recuaram de 16% no ano passado para 11% agora.

E o mais importante: acessibilidade

72% dos entrevistados contaram que as atividades online permitiram acesso a atividades culturais que, de outra forma, não seriam experimentadas. Na pesquisa de 2020, o índice tinha sido de 67%.

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