Igreja Santa Ifigênia: conheça a história da Basílica da Imaculada Conceição
O guia de turismo Laércio Cardoso de Carvalho fala sobre a história da igreja Santa Efigênia, que é oficialmente uma basílica.
O empresário Cairê Aoas, sócio da Fábrica de Bares, fala sobre as tendências do setor de gastronomia e entretenimento no pós-pandemia
Confira a entrevista com Cairê Aoas, da Fábrica de Bares, responsável por bares icônicos como Bar Brahma, Bar Léo, Blue Note, Riviera e, em breve, Filial e Love Story (rebatizada de Love Cabaret)
Por Denize Bacoccina e Clayton Melo
Desde muito jovem, o empresário Cairê Aoas frequentava o Centro de São Paulo, quando visitava o avô, que tinha uma lojinha de canetas e relógios no centro histórico. O pai, Álvaro Aoas, foi um pioneiro na nova cena boêmia ao instalar em Santa Cecília, nos anos 1990, o São Paulo Antigo, um bar com ambientação que remetia à São Paulo do começo do século 20 e tinha boa música ao vivo. Em 2001, Álvaro Aoas assumiu o Bar Brahma, na esquina mais famosa de São Paulo, avenida Ipiranga com São João, eternizada na música Sampa, de Caetano Veloso, que morou ali perto nos anos 1960.
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Nos últimos anos, Álvaro e Cairê montaram a Fábrica de Bares e assumiram a gestão de vários bares históricos de São Paulo, como o Bar Léo, o Riviera, o Filial, o Jacaré Grill, e entraram como sócios em outros empreendimentos mais jovens, mas igualmente icônicos, como o Bar dos Arcos, no subsolo do Theatro Municipal, e o Blue Note, na Avenida Paulista. Junto com Facundo Guerra, que já era sócio dos dois últimos, Cairê está montando o Love Cabaré, no local onde funcionou por décadas, na Rua Araújo, o Love Story, que foi à falência no ano passado.
Nesta entrevista, Cairê Aoas fala sobre a importância do setor de gastronomia e entretenimento, como as empresas sobreviveram à pandemia, a reabertura em breve dos bares que ainda estão fechados e as tendências para o setor.
E sobre sua relação com o Centro, não só do ponto de vista afetivo mas também de negócios. “Eu sou muito otimista. Acho que é uma questão de tempo para o Centro de São Paulo ser de fato o lugar de maior autoestima do paulistano”, afirma.
Leia a seguir os principais pontos da entrevista, que também pode ser ouvida no Spotify ou vista no YouTube.
Relação com o Centro de São Paulo
Tenho com o Centro uma relação muito especial, muito afetiva. É uma relação já antiga e familiar. O meu avô foi caneteiro e relojoeiro na Rua 15 de Novembro durante muitos anos. Ele tinha um pequeno empreendimento, uma portinha no prédio ao lado da Bolsa de Valores, e trabalhou ombro a ombro com o Silvio Santos na época em que ele era ambulante no Centro.
Ouça o podcast com Cairê Aoas no Spotify:
Desde muito cedo frequentei o Centro aos finais de semana. E, antes de mim, o meu pai. Acho que essa nossa paixão vem daí, do desejo de ver o Centro num patamar que ele merece. E depois disso começamos a participar de alguns projetos, geralmente de gastronomia, bar, restaurante. O meu pai, o Álvaro, teve um café na Santa Cecília que tinha música ao vivo, o Café São Paulo Antigo. Um bar que foi muito inovador à sua época porque a região já vivia um certo declínio, migração do centro comercial para os polos da Faria Lima, Berrini. Foi um dos primeiros bares a ter música ao vivo de qualidade, com serviço de qualidade, numa região tão desprestigiada quanto era na época a Santa Cecília. E hoje, graças a Deus, a Santa Cecília, a região de Campos Elíseos já estão vivendo outro momento, tem um monte de coisa legal acontecendo.
Aquele bar, lá no começo da década de 1990, nos trouxe pra cá. E depois a reabertura do Bar Brahma, que a gente entendeu como uma missão, na esquina da São João com a Ipiranga. Um bar fundado em 1948, um bar de quase 80 anos e que tinha uma representação histórica pra boemia de São Paulo, para a cultura de São Paulo. Uma esquina eternizada na música do Caetano, Sampa. Foi muito importante e trouxe outras oportunidades, outros contatos, outras amizades que nos levaram a outros projetos também aqui no Centro.
A Fábrica de Bares
A Fábrica de Bares administra, além do Bar Brahma, o Bar Léo, o Bar dos Arcos, o Blue Note, o Jacaré Grill, o Riviera que vamos abrir em breve, o Filial, na Vila Madalena – um bar super tradicional na Vila, que completaria 30 anos e infelizmente fechou na pandemia e vamos reabrir -, o Navarro, na Vila Madalena também. E acabamos de aterrissar em Brasília com duas operações no aeroporto. Em breve vamos reabrir o Bar Brasília e o Bar Brahma de Brasília, que também fecharam na pandemia. E o Orfeu, no Copan, que está sendo administrado por nós desde janeiro,
Estratégia de recuperar bares tradicionais
Aconteceu por acaso. Obviamente, o Bar Brahma foi muito importante pra isso. Depois pegamos o Bar Léo, que quando fechou foi uma comoção pra quem gosta do Centro, gosta de bar, e não foi diferente pra nós. Sempre tivemos uma admiração platônica pelo Bar Léo. Estava lá há 80 anos, eleito o melhor botequim do Brasil durante vários anos, melhor chope. E aí quando fechou fomos convidados, através de um conhecido, a participar do processo de resgate.
Mas não foi nenhuma estratégia, não foi nenhum uma visão de mercado, foi uma consequência do que a gente foi aprendendo a fazer. Esse tipo de projeto nos ensinou que tão importante quanto saber o que tem que ser feito é saber o que não deve ser feito.
É preciso manter tradição, manter valores, manter ritos, manter a alma do negócio, preservar o que o bar tem de importante para aquelas pessoas, aquela comunidade, aqueles clientes que frequentam aquele bar, o que não pode ser alterado. Então a gente vem aprendendo. Cada projeto tem um desafio e uma complexidade diferentes, mas gostamos de fazer isso. A gente adora essas marcas tradicionais. São marcas que têm um peso na memória afetiva de um conjunto de pessoas. E nosso aporte é tentar valorizar, trazer um pouco de profissionalização para esses estabelecimentos terem saúde e continuarem sobrevivendo.
Projeto na Love Story
O Love Story, assim como o Bar Leo, é uma entidade para nós, de São Paulo, e pra fora também. Obviamente a pandemia acelerou e potencializou a dificuldade que todos nós do segmento estávamos vivendo, e o Love infelizmente fechou. Nós assumimos o ponto, mas não o nome Love Story. Vamos chamar de Love Cabaré. A nossa ideia é transformar num bar cabaré. Vamos trazer os códigos da sensualidade, a pauta sexo para o centro da conversa e trabalhar isso de forma artística.
Vai ter um palco central que vai traduzir esse tema em apresentações artísticas de diversão, de entretenimento, junto com uma comida de qualidade, serviço de qualidade, coquetelaria de qualidade. Vai ser um complexo. O prédio inteiro, o térreo e mais três andares, onde teremos um hotel. Nossa ambição é que se torne uma referência para as pessoas de São Paulo e que seja passagem obrigatória pra quem vem de fora. Poder se divertir, ter um contato com o tema sexo de forma desmarginalizada e quem sabe estender a noite e dormir no próprio Love. Deve abrir pós-Carnaval. Em março, abril.
O Centro como ponto de gastronomia e entretenimento no momento pós-pandemia
Eu sou um extremo otimista com o Centro, sempre, e um pouco antes da pandemia eu estava bem entusiasmado. O Centro vinha passando por uma ressignificação, e pra mim o principal sinal era o segmento imobiliário. Nunca tinha visto tantos lançamentos imobiliários, inclusive de bons padrões, como nos últimos cinco anos. Você anda um quarteirão aqui na Praça da República, dá uma volta e vê dez empreendimentos novos. É um sinal. Onde tem oferta desse segmento tem demanda. Era um sinal da procura das pessoas por voltar a morar no Centro, voltar a frequentar o Centro.
Eu não acho que o Centro esteja abandonado. Sempre precisa ser revitalizado, não do ponto de vista arquitetônico e urbanístico, mas sempre precisa de mais iniciativas, como várias que já estão acontecendo, iniciativas privadas para ocupar os espaços públicos e privados e com isso trazer vida econômica ativa novamente. Acho que essa é a principal forma de a gente conseguir ocupar o espaço central e com essa ocupação afastar outros riscos que existem aqui, como marginalidade, crime.
Hoje realmente existe uma questão social muito difícil de ser resolvida e que se desdobra em questões de segurança pública. Então aqui na frente das nossas casas mesmo a gente teve que fazer um reforço de segurança muito grande. E é difícil. A gente tem um trabalho duplo, que é fazer a zeladoria e a segurança pública num espaço privado. Você tem que ocupar esse espaço porque precisa. Por outro lado, também é um trabalho de encorajar em dobro as pessoas a virem. Se elas são assaltadas na porta do estabelecimento, na entrada ou na saída, o trabalho de convencimento pra ela voltar é maior. Se bem que isso vem acontecendo na cidade inteira, né? Mas o Centro tem um aspecto, um sentimento de insegurança maior porque tem morador de rua, então as pessoas associam uma coisa a outra.
Existem várias iniciativas que despertaram ainda mais esse interesse, esse desejo de estar no Centro. Várias pessoas merecem o mérito. Tem o Farol Santander, o Jefferson e a Janaína Rueda, que fazem um trabalho sensacional, admiro muito o trabalho deles. Tem a Bel Coelho agora com o Cuia, no Copan. Tem uma série de coisas legais que estão acontecendo no Centro e as pessoas têm vontade de vir.
Acho que é uma questão de tempo e dessa retomada econômica ajudar a ter um encaminhamento social. Eu tive uma reunião recentemente na Prefeitura de São Paulo e fiquei muito muito feliz com que ouvi. Aparentemente eles têm um plano para isso, ordenado com várias frentes. Isso acontecendo, eu sou muito otimista. Acho que é uma questão de tempo para o Centro de São Paulo ser de fato o lugar de maior autoestima do paulistano.
Como ficaram os bares na pandemia
Implantamos projeto de delivery e até hoje temos o delivery nas casas, mas isso não foi suficiente para manter as operações de forma plena. Fizemos mais para manter a marca ativa, acessível para os clientes e conseguir manter pelo menos uma parte das pessoas trabalhando. No começo da pandemia também participamos de algumas operações de doações de quentinhas.
E tivemos que fazer muitas demissões. Tomamos a decisão dura, no começo, de desligar a maioria dos colaboradores para que eles tivessem acesso ao Fundo de Garantia e conseguissem passar por esse período. Muitos de fora de São Paulo resolveram voltar para suas famílias. E em função disso muita gente saiu desse segmento. E agora estamos até com dificuldade de contratação de mão de obra qualificada.
Mudanças de comportamento na noite
Acho que existe ainda um fator preocupação. Muita gente ainda não está se sentindo segura para voltar, está esperando novas informações. Por outro lado, as pessoas estão há dois anos praticamente sem poder se divertir, sociabilizar, se encontrar, se abraçar, beber juntos, cantar juntas. Então, eu acho que tem essa valorização do social, do encontro e da diversão mais do que nunca.
Também temos outra empresa, a Diverti, que faz eventos, e um dos eventos é o Camarote da Brahma no Carnaval de São Paulo. As vendas já estão abertas e as pessoas estão comprando enlouquecidamente. Quando você adquire o ingresso de um evento que é daqui quatro meses, já está antecipando um pouco, já está vivendo essa experiência antes dela acontecer, está pensando em roupa, sonhando com aquilo, conversando com os amigos.
Com a noite é a mesma coisa. Os bares, as casas noturnas, acho que vai ter uma geração de novidades. O Love é um exemplo disso e outras que espero que vão acontecer. Várias pessoas pensando em várias ideias que também estavam represadas. Muitas pessoas tinham vontade de fazer coisas e não tinham tempo de organizar. Agora tiveram dois anos pra pensar.
Noite mais cedo e ao ar livre
A gente já percebe as pessoas saindo mais cedo e acho que isso é positivo. Outra tendência são as áreas abertas ao ar livre. As pessoas se sentem mais seguras em lugares abertos, arejados, por tudo que a gente viveu e porque é mais agradável mesmo.
Nós fizemos adequações em três projetos. Um deles é o Jacaré, na Vila Madalena, que estamos finalizando a reforma para reinaugurar em novembro. A principal intervenção foi elevar o pé direito e construir um mezanino, um lugar aberto.
Outro projeto é o Orfeu. Fizemos uma extensão no mezanino para incorporar um terracinho um pouco maior, uma área aberta segura para que as pessoas possam inclusive fumar dentro do estabelecimento sem ter que sair e voltar.
E um outro projeto que está dependendo de aprovação da prefeitura – e é um sonho nosso – é um deque no Riviera. Queremos construir um mirante sobre a cúpula na Consolação com a Paulista, um espaço para que as pessoas possam estar na Consolação com a Paulista desfrutando a esquina e ao mesmo tempo dentro do estabelecimento, numa área aberta.
Assista à entrevista na íntegra no YouTube
Como funciona o Fab Lab, aceleradora de negócios para a área de entretenimento, alimentação e bebidas
No começo da pandemia tivemos mais tempo para refletir e nos entendermos como um ecossistema de marcas, de pessoas, de oportunidades, de operações, de endereços, de uma série de coisas. O Fab Lab é um laboratório que usa as nossas marcas, casas e clientes como um ambiente controlado para testar soluções de startups e ferramentas que a gente entende que possam ser soluções para o mercado e pra gente. Nós mapeamos gaps que existem no mercado e abrimos um edital. Tivemos 43 startups inscritas e, dessas, selecionados 11 que convidamos para participar desse programa de aceleração e mentoria de desenvolvimento. Temos uma estrutura em cima do Bar Brahma e organizamos mentores para validarem essas soluções. Com isso a gente consegue testar, conhecer, acelerar e escalar essas soluções para depois irem para o mercado. Inclusive algumas delas já estão em estágios de faturamento avançado e em algum momento elas saem do Fab Lab e vão seguir voo solo. Convidamos parceiros de mercado para também testarem a solução. E eu acho que se entender como um ecossistema é uma forma de se fortalecer. Podemos incentivar a formalidade, a inovação, novas soluções, ficar mais unidos, termos uma representatividade maior.
Ecossistema de hospitalidade
E o ecossistema que eu vejo é da hospitalidade, do entretenimento, uma coisa ampla. Passa por bar, restaurante, eventos e por hotel também. A hotelaria é uma coisa muito próxima desse universo. Inclusive temos dentro do conceito de ecossistema alguns projetos de hotelaria que a gente vem estudando, desenhando pra tentar viabilizar também.
O Love Cabaré já é um pouco nessa linha. É em parceria com o hotel vai ser operado lá. E temos outros projetos aqui no Centro. O Centro está a três quilômetros do Anhembi, que é o maior complexo de eventos e de turismo da América Latina e acabou de ser concedido pra GL Eventos, que é a maior operadora de eventos do mundo. Ela tem um plano de investimento de meio bilhão de reais para o Anhembi se transformar novamente no maior polo de negócios da América Latina.
Quem vai abastecer a hospedagem dessa demanda de turistas que vem pra São Paulo é o Centro de São Paulo. É muito melhor, mais fácil e tem muito mais opção de transporte, entretenimento e gastronomia no Centro do que a pessoa ficar hospedada na zona sul, por exemplo. Acho que, além de tudo, existe um movimento coordenado para o Centro se reposicionar e sair muito mais fortalecido como nunca esteve, abastecendo essa demanda que vai se criar com a reforma do Anhembi.
SOBRE A SÉRIE HACKEANDO A CIDADE
Com 15 episódios, a nova temporada do podcast do A Vida no Centro tem o propósito de provocar reflexões sobre o modelo de urbanização e compartilhar experiências bem-sucedidas de transformação de territórios.
O projeto conta com três apoiadores, que compartilham uma visão de cidade aberta, uso do espaço público e o amor pelo Centro de São Paulo: o escritório de arquitetura Pitá e o estúdio de design de móveis Estúdio Paulo Alves, que se mudaram para o Centro recentemente, e a construtora da Magik JC, empresa de 50 anos que produz habitação econômica com arquitetura e design no Centro de SP e gera impacto positivo por meio de suas ações.
O projeto conta ainda como a parceria da SP Escola de Teatro, responsável pela edição e finalização do podcast, e da plataforma de inovação aberta Distrito.
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