A Vida no Centro

Francine Costanti

Olhar literário

Francine Costanti é jornalista, e seus textos - na maioria sobre cultura e entretenimento - já passearam por algumas redações de portais e agências. Como inspiração pessoal, a ideia aqui é explorar a cena de música e literatura do Centro de São Paulo, desde os contos literários de Mário de Andrade até as letras de Emicida. Esse espaço é feito para e por todos. Por isso fique à vontade para deixar sugestões.

Artistas de rua do Centro: Conheça pessoas que se apresentam ao ar livre

Teatro, música, cosplay. São vários os artistas de rua que exercem sua arte em locais públicos. Conheça alguns deles

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Tempo de leitura:5 minutos

Todos os dias circulam milhares de pessoas pelo Centro de São Paulo, pessoas de todos os jeitos, com características, cortes de cabelo, roupas e sapatos diferentes. Com esse tanto de gente andando por aqui, ainda existem os artistas de rua, que resistem e seguem fazendo seu trabalho para entreter o público entre um compromisso e outro.

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Artistas de rua no Centro de São Paulo

Conversamos com alguns desses artistas de rua do Centro, que contam como é trabalhar ao ar livre por horas a fio, muitas vezes enfrentando climas adversos e, ainda, sim com muito amor pela profissão e com um único objetivo: nos tirar um pouquinho da realidade e nos fazer esquecer a correria do dia a dia.

Teatro do Esparrama, em frente ao Minhocão Foto: Fernando Pilatos

Teatro do Esparrama, em frente ao Minhocão Foto: Fernando Pilatos

Teatro de janela no Minhocão

Há muito tempo o Minhocão (Elevado Costa e Silva) não é só espaço para carros e pessoas. Em 2012, um grupo de amigos, que tinha o teatro como grande paixão, se reuniu para criar o Esparrama, projeto que apresenta peças dentro de um apartamento na via. O trabalho rendeu grandes conquistas para o grupo, que já apresentou um repertório com cinco espetáculos, tem dois livros e diversos prêmios e indicações em grandes instituições incentivadoras da arte teatral.

Para Iarlei Rangel, a escolha de apresentar as peças no Minhocão, além de ser um movimento inclusivo e cultural para os moradores e pessoas que passam por ali, tem a intenção de unir as pessoas por um bem maior, a ocupação de um espaço público. “O Minhocão é ocupado pela população há décadas. Os moradores do seu entorno transformaram esse espaço até o ponto de se tornar um lugar de prática de esporte e de lazer. Precisamos deixar claro que a população também define a cidade a partir do seu uso e foi essa ocupação popular que nos inspirou e nos permitiu fazer uma ocupação simbólica que, de forma artística, representou o novo uso que se fazia desse espaço”.

Além das apresentações teatrais, o grupo propõe uma série de ações para refletir sobre as mudanças anunciadas para acontecer no Minhocão, como vídeos, o projeto “Microfone aberto – “Minhocão: Já perguntaram a sua opinião?”- um microfone aberto durante 15 minutos antes da apresentação para incentivar o público a dar sua opinião – e debates públicos.

“As ruas de São Paulo nos permitem ter contato com um público rico em experiências das mais diversas, o que torna nosso trabalho ainda mais prazeroso. Porém, a rua é lugar de disputa, diariamente precisamos nos impor para garantir nosso espaço nela. Lutar contra forças que querem reduzir a rua apenas a um lugar de passagem”, completa Iarlei.

Leia também: GRAFITES EM SP: MINHOCÃO, UMA GALERIA DE ARTE A CÉU ABERTO

Música na Avenida Paulista

Há quase quatro anos a cantora Gisele Lira se apresenta na Avenida Paulista aos domingos – quando a via está fechada para carros. Depois de um ano e meio cantando em local aberto, ela decidiu potencializar a sua imagem e se inscreveu no programa The Voice, na Rede Globo: “Como a audiência da emissora é enorme até hoje sou reconhecida por causa disso. Foi muito importante para a minha carreira e me transformou como artista”, conta.

Gisele conta que trabalhar como artista de rua é muito bom porque sente na hora se está agradando o público: “O feedback é sempre o mais sincero possível, já que estamos em um lugar público e a reação é espontânea. Numa cidade corrida como São Paulo fico muito feliz de as pessoas pararem para me ver, algumas choram e outras dizem que eu mudei o dia delas para melhor”.

Gisele Lira

Gisele Lira

Para ela ainda falta um olhar mais atencioso por parte do governo e também das pessoas, que precisam começar a enxergar a profissão de músico com mais seriedade: “Ainda não é permitido tocar dentro das estações de metrô, ao contrário do que acontece em outros países, onde o metrô contrata artistas. As pessoas precisam ter essa visão de que o músico está trabalhando, que é uma profissão de verdade e isso também é parte da falta de consciência da população que não sabe valorizar a arte”, completa Gisele.

Cosplay de personagens do terror no Centro

Com certeza você já viu o famoso Jason Voorhees – personagem icônico do gênero terror – pelas ruas do Centro. Por trás da máscara medonha está Leandro Toguro Bueno, cosplay de outros inúmeros personagens, como Freddy Krueger, Predador, Pinhead e por aí vai. “Sempre curti filmes de terror e comecei com cosplays em 2009”, diz Leandro.

Jason Foto: Ney Monteiro

E por que escolher o Centro de São Paulo como palco das performances? “O Centro é o local onde tem muito movimento, além também de muitos turistas. Por isso achei que esses pontos seriam ideais para o meu trabalho. Gosto tanto que posso dizer que o Centro virou praticamente minha segunda casa”.

Trabalhar horas em pé e, muitas vezes, com tempo quente, é uma das grandes dificuldades para Leandro, além de enfrentar preconceito de pessoas que não valorizam a profissão: “Ser artista de rua em São Paulo não é fácil. Fico em pé durante oito horas por dia e, em dias quentes e ensolarados, passo um pouco de sufoco. Realmente isso não é para qualquer um. Existem preconceituosos que não conseguem enxergar o lado positivo do meu trabalho e, às vezes, a policia me proíbe de continuar ali, mas estamos propensos a tudo”.