Cidade das águas, São Paulo
A colunista Vera Lucia Dias escreve sobre os rios de São Paulo, que hoje estão cobertos e pela urbanização da cidade
“Mas porém, rio, meu rio, de cujas águas eu nasci,
Eu nem tenho direito mais de ser melancólico e frágil,
Nem de me estrelar nas volúpias inúteis da lágrima!
Eu me reverto às tuas águas espessas de infâmias…”
Mário de Andrade (A meditação sobre o Tietê)
A cidade de São Paulo, antes aldeia Piratininga, tem como característica geográfica a presença de muitas águas em seu solo. São riachos, dois grandes rios, o Tietê e o Pinheiros, ribeirões, cachoeiras. Duas grandes represas. A Billings, nome do americano Asa Billings, responsável por supervisionar a construção de barragens. E a Guarapiranga.
Existem cachoeiras na zona norte, entre elas a Engordador, no Parque Estadual da Cantareira, declarado como Reserva da Biosfera pela Unesco. E na zona sul a Sagui, na Área de Proteção Ambiental Capivari-Mono. Nessas regiões há presença de rica fauna com tucanos, corujas, jaguatiricas, capivaras. Pelo território a flora encontrada é composta de araçás, goiabas, jabuticabas, uvaias, manacás, sumarés, ypês ou jacarandás.
As aldeias do povo indígena Guarani são muito importantes no espaço ainda preservado. Eles têm conhecimento sobre a lida com rios. Buscam um bom viver e são responsáveis pela preservação e proteção da Mata Atlântica com manejo e equilíbrio do meio natural e demais seres cuidando com maestria da riqueza ambiental de São Paulo.
Um grande vale localizado a 760 metros acima do mar recebe riachos lá do alto do espigão da Paulista com seus 800 metros. Desses o Saracura com suas sete nascentes circulando correntes subterrâneas pela avenida 9 de Julho, o Itororó pela avenida 23 de Maio. O Bixiga, o riacho Anhangabaú e muitas outras minas formando águas que desaguam no Tamanduateí. Este por sua vez desagua no Tietê.
O Tamanduateí foi um dos mais violentados em seu curso retificado, que ora corre canalizado ora passa no meio de avenidas, como a suplicar olhares. Somente nas cheias de dezembro a março quando seu leito sobe é que percebemos sua força. Muito triste, o rio de tamanduás ser tão pouco preservado em suas margens.
Águas de São Paulo. A cuidar.
Glossário tupi
Anhangabaú – água do rosto do diabo; bebedouro dos demônios; rio dos malefícios (água salobra/figueira brava)
Araçá – fruta, planta mirtácea
Cambuci – pote
Capivara – comedor de capim
Capivari – rio das capivaras
Coruja – kaburé
Goiaba – acoyaba; agregado de caroços
Guarapiranga – garça vermelha
Itororó – barulho da água entre as pedras
Jabuticaba – iabutikaba; gordura de jabuti; árvore das mirtáceas”; fruto em forma de botão
Jacarandá – iakarandá; árvore da família das leguminosas
Jaguatirica – morro das onças
Lambari – araberi; peixe
Manacá – manaká, planta solanácea
Sagui – saguim; símio
Saracura – saracura; ave
Sumaré – variedade de orquídea
Tamanduateí – rio dos tamanduás
Tietê – rio profundo; rio por excelência
Uvaia – fruta azeda
Ypê – ipê; casca grossa
Referências bibliográficas: Eduardo de Almeida Navarro, Tupi Antigo; Francisco da Silveira Bueno, Vocabulário Tupi-Guarani; Vera Lucia Dias; O Tupi em São Paulo.
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