Cia. do Caminho Velho explora a densa cosmologia da caatinga e das relações familiares
O trabalho das atrizes, o desenho de luz e o figurino são os principais destaques da nova montagem do grupo
Por Marcio Aquiles
O novo espetáculo da Cia. do Caminho Velho, “Caatinga”, apresenta uma cosmologia densa e espinhosa de ser atravessada. Entre juremas, mandacarus e umbuzeiros, urubu-reis e preás, coabitam neste ambiente árido o pai e o filho em busca de tirar da fauna e da flora os recursos de subsistência.
A dramaturgia de Rudinei Borges é insuflada por sua vivência em Afonso Bezerra (Rio Grande do Norte), onde o autor passou um período para a filmagem de um curta-metragem. O conflito familiar é posto a partir dos desejos díspares, porque a dureza da vida dos vaqueiros nesse ecossistema e as violências reais e simbólicas do mundo adulto não encontram adesão imediata do infante.
Os códigos de representação são majoritariamente narrativos, e quem assume a história são as atrizes Carolina Erschfeld, Daiane Sousa, JoJo Brownie Souza e Naloana Lima – na estreia do espetáculo (17/9), todas apresentaram um desempenho extraordinário. Os folguedos e as danças dramáticas parecem inspirar as movimentações pelo palco, alternados por momentos de imobilidade em que a coralidade se encarrega como dispositivo de teatralização dominante.
Nesse particular, a enxurrada de vocalizações – extensos aês e oês ao longo de toda a montagem – que visa mimetizar gritos e cantos dos vaqueiros peca pelo excesso. Em vez de mimetizar as sonoridades da labuta, os signos ancestrais e um possível processo de alfabetização do filho, transformam-se em ruído por sua superabundância e acabam por tangenciar certos clichês.
Os aspectos plásticos, por sua vez, estão em perfeita harmonia, sobretudo pela forma como o elegante desenho de luz (elaborado pelo próprio diretor, Alex Araújo) molda as cenas e pelos figurinos de Telumi Hellen que conseguem acentuar essa atmosfera mítica e serem, ao mesmo tempo, arrojados.
Criada em 2007, a Cia. do Caminho Velho demonstra bastante maturidade cênica, percebe-se como o coletivo já estava absolutamente pronto para a estreia, algo que na correria de processos e trabalhos nem sempre é possível alcançar.
@marcioaquiles
Serviço
Até 8 de outubro, sábado, às 20h30, na SP Escola de Teatro (Praça Roosevelt, 210), entrada gratuita.
De 14 a 30 de outubro, sexta-feira e sábado às 21h, e domingo às 19h, no Teatro Arthur Azevedo (Av. Paes de Barros, 955).
