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Dona Yayá foi considerada incapaz e viveu quase toda a vida adulta dentro de casa, com cuidadores e empregados. Conheça sua história
Dona Yayá é o nome pelo qual ficou conhecida Sebastiana de Mello Freire, única sobrevivente de uma família rica que não pode usufruir a riqueza herdada do pai.
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A história de Dona Yayá, que foi considerada incapaz e interditada na Justiça e viveu boa parte da vida dentro de casa, com cuidadores e empregados, inspira muitas versões diferentes: seria ela vítima de uma conspiração ou uma pessoa doente? Uma mulher à frente do seu tempo ou apenas louca?
Nascida em 21 de janeiro de 1887, em Mogi das Cruzes, a mais nova de cinco filhos de Manoel de Almeida de Mello Freire e Josephina Augusta de Almeida Mello. O pai, de uma família de proprietários de terras e políticos de Mogi das Cruzes, seguiu a tradição dos jovens da elite paulista, formando-se advogado pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e dedicando-se à carreira política.
O pai e a mãe morreram em dezembro de 1900, com dois dias de diferença. Yayá e Nhonhô, seu irmão cinco anos mais velho, herdaram dinheiro, ações, terrenos, propriedades rurais e imóveis urbanos alugados tanto em São Paulo quanto em Mogi das Cruzes. Os outros filhos haviam morrido na infância. Cinco anos depois, Nhonhô cometeu suicídio, e Yayá ficou sozinha.
Ela nunca se casou e não teve filhos, mas teve duas afilhadas que criou como se fossem filhas. Ela vivia na companhia desses parentes e agregados em um palacete na Rua Sete de Abril, no centro de São Paulo, naquela época uma região nobre de moradias.
Em 1919, com 32 anos, Yayá apresentou recorrentes sinais de desequilíbrio emocional que levaram à sua internação em uma instituição hospitalar. Laudos médicos atestaram sua condição de paciente psiquiátrica e a necessidade de cuidados especiais para tratamento. Foi internada uma segunda vez, em 1920, e considerada incapaz de administrar sua própria vida e seus bens, recebendo interdição judicial. Nunca conseguiu recuperar a gestão sobre a própria vida.
Essa história, amplamente questionada pelo jornal sensacionalista O Parafuso, comoveu a sociedade paulistana. Um ano depois, por recomendações médicas, Yayá passaria a receber tratamento em casa, em melhores condições, em um ambiente de tranquilidade e segurança.
Mudou-se então para a casa na Rua Major Diogo, no Bixiga, uma antiga chácara onde Yayá permaneceu reclusa por 40 anos, em companhia de suas cuidadoras e empregados. Ela morreu em 4 de setembro de 1961, durante uma cirurgia para retirar um câncer de útero.
Em 1968, após um processo judicial que concluiu que ela não tinha herdeiros, a casa foi destinada à Universidade de São Paulo. Em 1990 a Usp fez as obras de recuperação e restauro do imóvel e desde 2004 o local é a sede do Centro de Preservação Cultural da Universidade de São Paulo. O imóvel foi tombado pelo Estado de São Paulo, em 1998, e pelo Município, em 2002.
Exposição sobre Dona Yayá
E para entender quem foi essa personagem, sua relação com a cidade e com a sociedade paulistana do século 20, o Centro de Preservação Cultural da Universidade de São Paulo inaugura a exposição Yayá – cotidiano, feminismo, doença, riqueza, que traz aspectos da vida de Dona Yayá ainda pouco conhecidos pelo público, resultado do aprofundamento das pesquisas que o CPC-USP vem realizando a partir de documentos, fontes históricas e entrevistas.
A história dessa mulher que viveu em São Paulo entre o final do século 19 e meados do século 20 também é a história da própria cidade, do processo de transformação da região central. Também diz muito sobre o papel das mulheres na sociedade e o tratamento destinado aos pacientes psiquiátricos no Brasil.
A exposição fica aberta ao público a partir do dia 19 de maio, com visitação de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h. Agendamento de visitas para grupos aqui.
O endereço é Rua Major Diogo, 353.
A exposição tem ainda uma versão digital, lançada em 2021, que pode ser vista aqui.
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