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Espetáculo que narra amor entre dois transexuais é a terceira peça da Trilogia do Antipatriarcado dos Satyros
Inspirada diretamente na psicodelia, no rock e na pop art do final dos anos 1960 e começo dos 1970 e embalada por uma trilha sonora baseada em sucessos de Mutantes, Velvet Underground, The Animals, Jerry Adriani e Wanderléa, a nova montagem de Transex, conta a história de uma travesti prostituída que vive de favor no apartamento de uma famosa atriz de pornochanchada e se envolve emocionalmente com um extraterrestre.
Os descaminhos desse amor marcam a ação até a chegada de seu professor de pintura transexual e uma revelação surpreendente. A peça estreia no dia 27 de junho no teatro Os Satyros Um e fica em cartaz às quartas e quintas, até o fim de agosto.
O espetáculo conta com a participação especial de Nicole Puzzi, no papel de Marlene Bréa, a “deusa da pornochanchada”.
Transex é uma homenagem a Phedra de Córdoba – falecida em 2016 –, que completaria 80 anos no último mês de maio. Os Satyros também organizaram uma exposição fotográfica com momentos de sua carreira da atriz, que poderá ser vista no teatro.
A personagem Phedra será interpretada por importantes personalidades da comunidade LGBTI+ e amigos próximos da atriz. Maria Clara Spinelli, TchaKa, Edy Star, Salete Campari, Paula Cohen, Cléo de Páris, Juan Manuel Tellategui e Márcia Dailyn são alguns dos nomes que darão vida a essa personagem histórica na luta pelos direitos das pessoas transgêneras. A estreia ficará por conta da atriz transexual Leona Jhovs.
Esta é a segunda montagem de Transex, texto de Rodolfo García Vázquez (que também assina a direção) encenado pela primeira vez em em 2004. O espetáculo surgiu no período inicial do grupo na Praça Roosevelt, quando a região era dominada pelo tráfico de drogas, criminalidade, assaltos e prostituição de michês e travestis.
O texto lida com as questões surgidas naquele período turbulento em que o grupo se viu, muitas vezes, ameaçado pela ação de traficantes e passou a ter uma relação de proximidade e companheirismo com as mulheres transexuais e travestis que viviam da prostituição na região.
Baseado em fatos reais e inspirado em Phedra de Córdoba e Savanah Meireles, o texto mescla comédia nonsense, drama, vaudeville, dublagem e farsa, em uma transgressão estética proposital. A solidão da grande cidade, o isolamento social dos transexuais e travestis e as dificuldades do amor fazem parte deste universo de jogos verbais e confrontos cômicos.
Transex foi extremamente importante na história d’Os Satyros, por ser uma das primeiras montagens da Cia na Praça Roosevelt com abordagem documental. A montagem trazia transexuais que viviam no entorno da sede do grupo. Entre elas, Phedra de Córdoba e Savanah Meireles.
A peça fala sobre o amor e o acaso, trazendo referências do universo trans, travesti, drag queen, crossdresser, da prostituição nos anos 60/70, do cinema da pornochanchada, do mundo hippie e da intensa necessidade da liberdade de expressão em um país dominado pelo regime militar. Em um momento onde muitos brasileiros clamam pelo retorno de uma intervenção militar, Os Satyros buscam celebrar a liberdade em primeiro lugar.
A travesti Tereza e a atriz de pornochanchada Marlene Bréa dividem um apartamento na Praça Roosevelt. Uma delas, Tereza, é apaixonada por um ser de outra dimensão. Em determinado momento, as duas recebem a visita de René, professor de pintura de Tereza, um homem transexual, que fala sobre seu código de amor, inspirado nos códigos medievais, e revela a Tereza que ela é a escolhida para receber o seu amor.
O cenário e o figurino do espetáculo são ambientados no final dos anos 60, época áurea da Praça Roosevelt e data de surgimento da estética da pornochanchada na Rua do Triunfo, em São Paulo.
Transex é a terceira peça da Trilogia do Antipatriarcado, pensada na realidade atual do país, de profunda tensão social, conservadorismo exacerbado e intolerância.
Em Pink Star, espetáculo que estreou em setembro de 2017 e que continua em cartaz, o texto aborda as relações da pós-família com as questões de gênero e a teoria Queer, a partir de textos teóricos de Judith Butler e Paul B. Preciado, entre outros. O espetáculo parte da discussão de como a família, a escola, a religião e todas as outras instituições sociais constroem o homem ou a mulher que perfaz a nossa identidade pessoal.
Cabaret Transperipatético, a segunda parte da Trilogia, teve sua estreia em maio de 2018. O espetáculo trouxe o primeiro elenco inteiramente não-cisgênero, com artistas transexuais, intersexo, agênero de Os Satyros, com um texto calcado nas biograias do elenco.
A remontagem de Transex finaliza a Trilogia do Antipatriarcado com fábula sobre o amor. A partir de uma história de amor inesperada entre uma prostituta transexual e um extraterrestre, o espetáculo discute temas como a solidão, o isolamento social e as possibilidades de sobrevivência do amor em tempos de ódio.
No elenco de Transex, Ivam Cabral, que participou da montagem original e Márcia Dailyn, dividem o papel de Tereza, a jovem transexual apaixonada por um extraterrestre. Nicole Puzzi interpreta a deusa da pornochanchada de nome Marlene Bréa. O ator transexual Léo Perisatto faz o papel do professor transexual René, que na montagem original era interpretado pelo crítico de teatro e ator Alberto Guzik. Além destes protagonistas, vários atores cisgêneros, transgêneros e agêneros desempenham os outros personagens do espetáculo.
Nicole Puzzi e Os Satyros sempre flertaram e quase trabalharam juntos diversas vezes, mas só realizaram a parceira neste espetáculo. Nesta remontagem, a carreira da atriz da Boca do Lixo será uma referência importante. Sua personagem trará nova dimensão ao espetáculo como deusa da pornochanchada, abordando a resistência na luta pelos direitos humanos em um período de repressão da ditadura militar.
A atriz iniciou carreira no cinema em 1975 e ficou conhecida pelas participações em muitos filmes brasileiros, especialmente na pornochanchada das décadas de 1970 e 1980. Na TV, trabalhou em telenovelas, como Barriga de Aluguel de Glória Perez. É autora do livro A Boca de São Paulo, sobre os bastidores das pornochanchadas e da Boca do Lixo paulistana. Em 2014 escreveu a peça A Pornochanchada que nos Pariu e atualmente é apresentadora do programa Pornolândia, no Canal Brasil. Em 47 anos de carreira, fez 30 filmes, 12 novelas e 26 espetáculos teatrais.
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Em 2018, Phedra de Córdoba, atriz transexual e figura marcante na trajetória da Cia, completaria 80 anos de idade. Nascida em Cuba, Phedra mudou-se para o Brasil, nos anos 1950, como bailarino de Walter Pinto, uma das principais figuras do Teatro de Revista e trabalhou com Consuelo Leandro, Lenny Dale, Hebe Camargo, Nelson Gonçalves e uma infinidade de outros artistas. Ao longo dos anos excursionou por países da América Latina, América do Norte e Europa.
Na Cia de Teatro Os Satyros participou de espetáculos como A Filosofia na Alcova, A Vida na Praça Roosevelt, Divinas Palavras, Vestido de Noiva, Hipóteses para o Amor e a Verdade e tantos outros, além de filmes e séries.
Phedra virou personagem em Transex – na época da estreia em 2004, vivida por ela mesma –, uma grande diva, fonte de inspiração das protagonistas do espetáculo.
Serviço
Espetáculo: Transex
Duração: 85 min.
Local: Satyros Um – Praça Roosevelt, 214 – tel. 3258 6345
Dias: Quartas e quintas, 21h
Temporada: 27/6 a 30/8
Ingresso: R$20,00 (inteira) | R$10,00 (meia) | R$ 5,00 (morador da Praça Roosevelt) | Pessoas não binárias, transexuais, travestis e agêneros entram de graça.
Telefones para reservas: 3258 6345 / 3231 1954
Recomendação: Livre
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