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Em entrevista ao A Vida no Centro, empresário Antonio Setin, que tem sete projetos residenciais no centro de São Paulo, fala que já teve medo de investir na região e explica por que mudou de ideia
Por Denize Bacoccina
O empresário Antonio Setin, dono da incorporadora que leva seu nome, é um admirador antigo do centro de São Paulo. Quando criança, ficava impressionado com o luxo que via nos frequentadores da região.
Há sete anos, foi um dos pioneiros em erguer edifícios novos no local, para atender ao público jovem que voltou a procurar o centro como local de moradia, e buscava apartamentos pequenos que combinassem condomínio barato com bons serviços de lazer e conveniência.
Fez dois prédios que venderam como água e começou a construção de outros cinco empreendimentos. Um deles, com vista para a Praça da República, um local que já foi degradado e vem recuperando seu glamour da década passada. A crise no mercado imobiliário já não permite a mesma velocidade nas vendas, mas Setin continua acreditando que a revalorização do centro, que já começou, é um processo sem volta, seguindo a tendência de centros urbanos em outros países, onde se percebe a vantagem de morar perto de tudo.
Em entrevista ao projeto A Vida no Centro, ele só reclama que está demorando um pouco por falta de empenho do Poder Público em criar leis que realmente estimulem esse movimento. “O centro de São Paulo não vai ter outro destino a não ser o de outras grandes cidades dos mundos. Só que a velocidade com que o centro de São Paulo está se recuperado é muito lenta”, afirma. Ele diz que o centro melhorou muito. “Mas ainda está faltando uma revolução”.
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Confira a entrevista:
A Vida no Centro – A Setin tem sete empreendimentos (dois entregues e cinco em construção) no centro de São Paulo, uma região que ficou muito tempo sem novas construções. Por que investir no centro?
Antonio Setin – Eu sempre acreditei no centro. Há uns 20 anos eu já pensava em fazer alguma coisa na região. E fiz um hotel na rua Araújo. Mas na época o problema era que ninguém fazia prédios residenciais no centro e aí ficava-se pensando: ninguém faz nada porque não tem mercado ou não tem mercado porque ninguém faz nada? Fui consultar uma grande imobiliária na época, e me disseram que o centro estava esvaziando, não tinha demanda e eu acabei adiando. Mas eu sempre gostei do centro porque tem muita coisa bonita. Sem contar a infraestrutura, comunicações, transporte etc.
E na época não fez por quê?
Não havia certeza se haveria demanda para habitação, porque as pessoas iam para o centro para trabalhar, e depois iam embora. Então fiquei com medo, recuei. Há uns sete anos acabei criando a coragem de fazer o primeiro empreendimento, na Avenida São João, onde era a cracolândia. Depois comprei um terreno na Brigadeiro Luiz Antonio. E aí vi que tinha, sim, uma demanda. Fiz um estudo e percebemos que as pessoas estavam começando a ir morar no centro e reclamavam muito que os prédios não tinham nenhuma infraestrutura, não tinha piscina e mesmo assim o condomínio era caro. Elas queriam um prédio com área de lazer e condomínio mais baixo. Lançamos os dois primeiros empreendimentos quase juntos e comercializamos tudo em 30 dias. Isso foi há cinco anos. Hoje o mercado está diferente. Eu sempre tive uma admiração pelo centro por uma questão pessoal.
Já morou no centro?
Não, nunca. Mas, quando vim pra São Paulo, do interior do Paraná, eu tinha 9 anos, nos anos 1970. As poucas vezes que ia ao centro, a região era extremamente chique. Os operários andavam de paletó, os executivos de paletó e gravata e as mulheres, muito elegantes. E não existia pichação, problema de segurança. Todos os bancos tinham sede na Rua Boa Vista. Os donos dos bancos ficavam ali. Os grandes escritórios de advocacia também. Eu era muito pobre, às vezes nem tinha dinheiro para ir de ônibus. Eu olhava para aquilo com uma admiração incrível. Depois atravessava o centro para estudar, no colégio técnico em São Bernardo do Campo. Depois fui fazer faculdade em Guarulhos e quando voltei a cruzar o centro, anos depois, já era um caos. Muito mais do que hoje: pichação, prédios abandonados. Todo mundo fugiu, o centro esvaziou. E foi isso o que ouvi quando pensei em fazer a minha primeira incursão no centro. Mas achava que as pessoas deveriam querer morar lá, já que trabalhavam por ali. Os últimos lançamentos de quitinete no centro foram nos anos 1970. Todo governo municipal dizia que ia investir, mas todas as iniciativas foram muito tímidas.
Não teve um incentivo para recuperação de fachadas?
Teve, mas uma coisa muito tímida. Tinha que ter uma revolução. Ainda está faltando uma revolução no centro. Mas não sei se o Dória vai ter condições políticas de fazer, porque hoje em dia todo mundo é do contra. A recuperação do centro aconteceu à revelia dos empresários, dos políticos e do mercado. Foi pela falta de outorga (autorização de potencia construtivo) disponível para comprar na maioria dos bairros de São Paulo, o que fez com que as construtoras voltassem a olhar para o centro. Isso me ajudou a tomar a decisão. Acabou ficando uma opção por falta de outra opção. O centro acabou recebendo um presente.
Quem é o público desses apartamentos? É um perfil de investidor ou de morador?
No conjunto, é mais investidor de pequeno porte. O morador é um público mais jovem, que não tem dinheiro, mas que também não quer comprar um imóvel, prefere ter mobilidade. Tem muita gente que trabalha e passa a semana em São Paulo, gente que vem do interior, que vem pra cidade para o circuito cultural e quer ter uma base no centro, em vez de ficar no hotel. Solteiros, artistas, gays. Na Praça da República, teve um pedido de casamento gay na laje onde o morador comprou. E esse público não quer um lugar grande, mas um lugar bom. O prédio da República, além da vista, tem várias áreas de lazer. O térreo tem pé direito triplo, tem um painel do Tozzi. Eu tenho seis filhos e comprei um apartamento para cada um deles. As pessoas vão jantar no restaurante do Olivier (o Esther Rooftop do outro lado da República) e falam que o lugar é lindo à noite, parece que você está em outro lugar do mundo. O Largo do Arouche está se requalificando, vai ficar muito bom. O centro de São Paulo não vai ter outro destino a não ser o de outras grandes cidades do mundo. Só que a velocidade com que o centro de São Paulo está se recuperado é muito lenta.
Por que isso acontece?
Acho que por várias razões: não teve nenhum político que tenha pego isso com pulso firme, pra analisar e fazer tudo o que é preciso: dar isenção de IPTU, algum tipo de incentivo.
E como estão as vendas atualmente?
Hoje o mercado está muito ruim. Vendemos de 50% a 60% nos meses de lançamento e temos um estoque que está sendo comercializado aos poucos. Um a um, com muito esforço, muito convencimento.
A Setin é uma das donas, junto com a Cyrella, do terreno do futuro Parque Augusta. Como ficou a negociação? Tem muita gente contra achando que as construtoras vão ser muito beneficiadas.
Sempre tem gente achando que empresário é beneficiado. A nossa proposta era um projeto que ia entregar para uso público 60% da área total, com um parque aberto para a população. Mas os ativistas e o Ministério Público ficaram embaraçando nossa vida. E a solução dada pelo prefeito foi esta. Não é boa pra gente, mas é o que temos para o momento.
Quando o parque será implantado?
Tem que passar pela Câmara dos Vereadores, mas o cronograma está todo desenhado para acontecer ainda dentro deste ano. Porque há interesse do Ministério Público em fazer o parque, há interesse dos ativistas em fazer o parque. Há interesse dos vereadores em entregar o parque. E ainda vamos fazer um boulevard ligando o futuro Parque Augusta à Praça Roosevelt, na Rua Gravataí. Vamos alargar a calçada e fazer um paisagismo.
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