Quando o chão vira texto
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Moradores da Praça Roosevelt reclamam de apagamento da história com mudança de nome proposta por vereador Thammy Miranda
Um projeto de lei do vereador Thammy Miranda (PL) muda o nome da Praça Roosevelt para Praça Tarcísio Meira. A proposta provocou ampla reação contrária de moradores, comerciantes e frequentares da praça, que tem este nome desde os anos 1950 e já se tornou um endereço tradicional da cidade graças à ligação com a cultura, com a gastronomia e com esportes, como o skate. “A opinião dos moradores é bastante negativa. Os moradores têm uma relação importante com a praça, que é referência em São Paulo e até no Brasil. Mudar o nome também significa um apagamento da história da praça”, diz Fernando Mazzarolo, presidente da Associação dos Moradores da Praça Roosevelt (AmoPraça), que lançou um abaixo-assinado contra a mudança.
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“Além de não ter havido consulta prévia à comunidade local, a alteração do nome do logradouro para Praça Tarcísio Meira poderá acarretar muitos transtornos, como o pagamento da história da Praça Roosevelt, perda de identidade e despesas com atualização de matrículas, contratos sociais e alterações cadastrais”, diz o abaixo-assinado. Nos dois primeiros dias, o documento foi assinado por mais de mil pessoas. Versões em papel também circularam nos prédios da região.
Praça Roosevelt não é apenas o nome do espaço público, mas também o endereço de dois quarteirões em frente à praça, entre a Rua Martins Fontes e a Avenida Consolação. Com a mudança, mudaria também o endereço oficial de mais de dez edifícios residenciais nos dois quarteirões, todos eles com lojas comerciais (bares, teatros, escolas, supermercados e outra lojas) no térreo.
Proposta de mudança e história
O PL 535/2021 foi proposto logo após a morte do ator Tarcísio Meira, por Covid-19, em 12 de agosto. No documento que justifica a mudança, o vereador Thammy Miranda diz que a praça ganhou esse nome em 1970. Mas, na verdade, a denominação Praça Roosevelt foi dada em 1950, quando a praça ainda era usada como estacionamento. É desta forma que ela aparece, por exemplo, numa cena do filme São Paulo S/A, de Luis Sérgio Person, de 1965.
A região, na época, era o centro cultural da cidade, endereço de bares importantes da Bossa Nova, como o Baiúca, o Farney´s, Stardust, Chicote. Foi ali, no bar que hoje é o PPP (Papo, Pinga e Petisco) que Elis Regina fez seu primeiro show em São Paulo.
Em 1970, o governo militar construiu um outro projeto, um edifício com vários níveis, fazendo a ligação entre o Minhocão e a Radial Leste. Em pouco tempo esse edifício se deteriorou e a praça virou um lugar escuro, perigoso. Até que os teatros começaram a ocupar a região, no começo dos anos 2000.
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Ao A Vida no Centro, o vereador disse que propôs a mudança pelo momento de ressignificação de conceitos e de homenagens que já foram prestadas a algumas pessoas que fizeram parte da nossa história. “Não acho coerente a gente ter uma homenagem a um presidente americano. Por isso a proposição da troca para o nome do grande ator paulistano Tarcísio Meira”, disse Thammy Miranda.
Na avaliação de moradores e frequentadores, no entanto, o nome Praça Roosevelt já ultrapassou o significado original de homenagem ao ex-presidente americano Franklin Delano Roosevelt e virou uma marca da cidade, o local com uma diversidade e pluralidade únicos.
Reocupação do espaço público
Desde a reforma e reinauguração em 2012, a Praça Roosevelt se consolidou como um amplo espaço livre, com um único pavimento. Com o tempo, a praça recuperou sua tradição boêmia e hoje virou um ponto de encontro de pessoas de todas as regiões da cidade e que reúne atividades ao longo das 24 horas, de pessoas com cachorros na parte da manhã, passando por skatistas, moradores com crianças, estudantes de teatro ensaiando apresentações artísticas. A Praça Roosevelt, além de três teatros, tem o Cine Bijou, que será reaberto em breve, e a SP Escola de Teatro, escola de teatro do governo de São Paulo, que tem reconhecimento internacional e centenas de alunos. Tem ainda uma escola privada, o Curso Ator.
“A Praça Roosevelt é a ágora da cidade de são Paulo e o centro de todas as convergências. A história precisa ser mudada mas não apagada”, diz Ivam Cabral, ator, diretor e cofundador da cia de teatro Os Satyros, que se instalou na Praça Roosevelt há 21 anos e foi um dos grandes responsáveis pela recuperação do local pela cultura. “Sou contra, com todo o respeito e amor pelo artista que foi o Tarcísio Meira.”
Toda essa história que criou esse ambiente de efervescência cultural, diversidade, é uma historia que foi construída ao longo de décadas e não tem sentido ser apagada por uma mudança de nome. Além do trabalho de todos os moradores e comerciantes terem que modificar seus documentos, diz Fernando Mazzarolo.
Diálogo com os moradores
O projeto foi aprovado no primeiro turno, no dia 15 de setembro, e deveria ser votado em segundo turno nesta quarta-feira. A pedido dos moradores, o vereador tirou a matéria da pauta. Nesta quinta-feira (30 de setembro), em reunião com representantes da Associação de Moradores ele disse que uma consulta inicial mostrou que moradores e comerciantes seriam favoráveis à mudança. “Acredito que democracia é isso, eu quero construir meus projetos com a nossa gente, com as pessoas que moram na região. Se realmente as pessoas não quiserem, a gente vai lá e tira o projeto. Estou aberto ao diálogo sempre”, afirmou o vereador.
“Estamos dialogando, tentando construir uma solução para que a homenagem ao ator Tarcísio Meira, que é extremamente válida, seja feita e ao mesmo tempo a identidade da praça seja preservada”, diz o presidente da associação.
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