Festas de fim de ano espalham Covid na bolha da classe média
Foi justamente na região do centro expandido, de classe média, com IDH alto, que a Covid mais cresceu nos últimos meses. Foto: Fotos Públicas
Ivam Cabral, cofundador dos Satyros, fala sobre os planos da companhia neste cenário de distanciamento social, que agora terá espetáculos online.
Satyros fecham teatro (Estação Satyros) por causa dos efeitos da pandemia: Ivam Cabral, cofundador da companhia, fala sobre os planos do grupo neste cenário de distanciamento social, que agora terá espetáculos online
A companhia de teatro Os Satyros se instalou na Praça Roosevelt em 1999 (conheça a história contada por eles mesmos nesta entrevista aqui e neste podcast aqui.) Há 15 anos, abriram um segundo espaço, batizado de Satyros 2, ou Estação Satyros. É um espaço no subsolo, um espaço incrível que recebeu peças experimentais, festas, exposições, serviu como ateliê e tem ainda o bar no térreo, inicialmente chamado de Bambolina e, nos últimos anos, rebatizado de BAB.
Em seus 31 anos de atividades, Os Satyros ganham dezenas de prêmios no Brasil e no exterior, se instalaram por um tempo na Europa, fizeram parcerias e intercâmbios com companhias mundo afora e colecionam sucessos.
Com o fechamento dos bares e dos teatros por causa do coronavírus, morreu a vida artística, cultural e boêmia da Praça Roosevelt. Os Satyros, que também administram o Cine Bijou, viram a receita com o espaço minguar e entregaram o Satyros 2, para manter o restante do projeto.
Ivam Cabral, ator e dramaturgo, cofundador da Cia. de Teatro Os Satyros
Há 15 anos temos dois espaços na Praça Roosevelt. O Satyros 1 e o Satyros 2. O Satyros 2 é um projeto que nunca recebeu nenhum apoio, nenhum prêmio, nenhum edital. Era um espaço virgem de patrocínio de qualquer parte, de qualquer lugar. Isso também nos dava um respiro. Era um espaço onde a gente vociferava as nossas mágoas políticas, econômicas, sociais. Falamos de vizinhos, falamos de todo mundo no Satyros 2. E, infelizmente, com essa pandemia, tendo que fechar tudo, não tendo o bar funcionando, não tendo as oficinas de teatro – as oficinas de teatro sempre foram muito importantes para a manutenção dos espaços porque sempre tivemos em torno de 100 pessoas nas nossas oficinas, o que dava uma renda suficiente para poder segurar essa onda. Com a pandemia e sem a renda desses lugares a gente não consegue continuar.
E além disso há um ano temos o Cine Bijou. A gente paga aluguel há um ano e ele ainda não foi inaugurado. Seria inaugurado em abril, a gente tinha conseguido patrocínio e infelizmente este patrocínio agora evaporou e ficamos meio órfãos. Foi como o médico da UTI da Covid que teve que escolher um em detrimento do outro. E foi horrível, porque o Bijou é o nosso filho mais novo, o Satyros 1 o filho mais velho e o Satyros 2 era o nosso filho rebelde. Era como se a gente tivesse matado o adolescente rebelde. É uma sensação de morte, uma sensação de fim, uma sensação muito complicada.
Mas a gente tem ainda muito gás, a gente tem muita força e vai sair dessa. Temos pensado em ações. A gente já está trabalhando na internet. Eu continuo como meu solo de sexta a domingo (Todos os Sonhos do Mundo, que pode ser visto aqui). E até agora de maneira amadora, porque a gente está numa live do Instagram. Mas fomos procurados pelo Sympla, que nos procurou com soluções para monetizar e no futuro essas lives serão conduzidas para uma sala que a pessoa terá que comprar ingressos para assistir.
No Satyros estamos ensaiando uma peça online. O grupo está cada um na sua casa e se encontrando online. São peças que vão falar das nossas casas. Um ator está pesquisando o armário, o outro o fogão, o outro a geladeira, o outro a cama. E as cenas serão nessas camas, nesses armários, nessas geladeiras, nesses chuveiros, nesses vasos sanitários. Essa peça vai estrear em maio, a partir dessa estrutura do Sympla para monetizar esse trabalho. É uma maneira que a gente está encontrando para conviver com a pandemia.
Não acho que seria possível voltar em cartaz com qualquer peça nos Satyros ainda este ano. O Satyros é um espaço muito pequenino. Mesmo que o governo flexibilize as saídas, e isso vai acontecer daqui a pouco, não é muito o caso dos Satyros. O nosso espaço tem 6 metros x 8 metros e cabem 60 pessoas abarrotadas. Se a gente for obedecer ao que o governo determinar a partir de agora, uma distância de 3 metros de uma pessoa para outra, a gente não tem público dentro do espaço. Vai caber umas 10 pessoas. E os nossos elencos são muito grandes, a gente gosta de andar em trupe.
Então vamos apostar na internet para ver se ali a gente encontra uma saída. Mas com muita esperança, como muito amor e com muita ânsia pelo futuro acreditando que a gente tem lugar no mundo, que o mundo precisa da gente e que a gente vai sair dessa, certamente.
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